A JORNADA DE ROBIN:

Bloco 3 - Mais Lembranças

Cápitulo 09 - O "Salvador"

A ideia inicial era usar esse capítulo para descrever meu plano, onde eu faria uma entrada triunfal e libertaria a cidade dos Pokémons selvagens que escaparam de uma floresta e decidiram atacar a todos, mas creio que só estas poucas linhas sejam o suficiente. Tudo ocorreu como esperado e, após expulsar as temíveis bestas, todos vieram falar comigo. A primeira pessoa a me interrogar fora o Professor Birch, que me convidou para sua sala, dentro do Laboratório:

— Eu poderia estudar por anos, e ainda assim não encontraria o que eu vi. Foram raras as vezes que Pokémons de áreas completamente afastadas invadiram uma cidade, sendo todas essas ocasiões manipuladas por pessoas talentosas que usaram seus dons para fins pessoais e egoistas.

Estava dividido em me sentir elogiado ou culpado. Antes que ele pudesse dizer outra coisa, decidi aceitar aquilo como elogio.

— Não quero te prender aqui por muito tempo, então serei o mais breve possível — Falou educadamente, enquanto pegava um papel e caneta. — Soube que você se perdeu do seu grupo em uma expedição, a uma semana atrás. O que aconteceu depois?

— Desculpe, mas o senhor está enganado. Eu me separei de propósito, pois estava desconfiando dos Pokémons da Rota.

— Mesmo? Ouvi dizer que você era um aluno exemplar, pensei que alguém assim iria falar com os supervisores antes de fazer algo desse tipo.

— Foi a minha primeira intenção, mas sabia que iam me ignorar, até porque até eu estava duvidando de mim mesmo.

— Mas você decidiu ir assim mesmo — disse o ainda intrigado professor, oferecendo-me um copo de chá.

— Tem razão, eu não estava pensando como o de costume naquele dia. Aliás, estava usando mais os instintos do que a lógica.

Fiz um gesto recusando a bebida e continuei:

— Minhas suspeitas estavam certas: Vi os Pokémons agindo e vivendo como humanos. Era impossível entender o que eles estavam falando, palavra por palavra, mas consegui ter uma noção da situação.

— Pois bem, você confirmou suas suspeitas, mas ainda tinha o fato de você ter se perdido — acrescentou o entusiasmado professor, quase derrubando o bule de chá enquanto escrevia.

— Como disse, não estava perdido, sabia exatamente como voltar, porém decidi ficar mais um tempo. Como estudei a Rota no dia anterior, tive poucos problemas em sobreviver enquanto observava os Pokémons.

Sempre tive uma mania de olhar para cima, para os lados, ou para baixo enquanto contava alguma história, seja ela real ou fictícia, mas costumava parar para olhar na cara da pessoa às vezes. Assim que terminei de falar sobre como consegui sobreviver, olhei para o professor e me senti um tanto intimidado: Seu olhar ingênuo e entusiasmado se tornou incrédulo e sério. Quando notou que eu vi sua expressão, tratou de mudá-la rapidamente.

Desse momento em diante, a conversa começou a ficar mais tensa. Impossível, será que ele sabe de alguma coisa? Eu cometi algum engano? Ele achou alguma contradição? Isto é improvável, mesmo que tivesse alguma falha, a única maneira dele saber era estando no mesmo lugar e no mesmo espaço que eu... ou será que não?

— Muito bem, ouvi o suficiente, pode ir pra casa agora — finalizou Birch

— Oh, é mesmo?

— Claro, Robin... digo, se não houver mais nada que você queira me contar.

— Se é assim, peço que o senhor diga tudo às pessoas, já que a sua palavra torna a história mais verídica — disse com um sorriso falso enquanto me preparava para sair.

— Ah, não se preocupe, eu manterei minha boca fechada enquanto você não revele o meu segredo... — falou o professor enquanto eu abria a porta para ir embora.

Cápitulo 10 - Birch

Assim que saí do laboratório, com as enigmáticas palavras do professor na minha mente, fui perseguido por uma legião de pessoas querendo saber sobre a tal façanha. Meus pais, recém-chegados, me ajudaram a fugir e deram uma pequena festa para celebrar minha volta. Ainda assim, continuava inquieto, por ser impossível me acalmar e aproveitar a situação. Seria culpa? Não, não... mas se Birch decidir me delatar, toda minha reputação estará em risco, talvez eu até fosse impedido de me tornar um treinador. Quem é ele, afinal? E o que ele quis dizer com "Eu manterei minha boca fechada enquanto você não revelar o meu segredo"? O que eu sei sobre ele?


No dia seguinte, um sábado, decidi dedicar-me a estudar o meu inimigo. Infelizmente, fui incapaz de encontrar algo novo e que me ajudasse. Tudo que encontrei já estudei na Escola: Birch é um pesquisador famoso, de personalidade um tanto ecêntrica, com um vasto conhecimento do mundo, já que ele costuma passar bastante tempo fora. No entanto, esse último fato me intrigou, e me fez pensar se ele realmente pesquisava ou fazia alguma outra coisa. Talvez ele tenha me encontrado na floresta e pensado que eu o vi fazendo algo incriminador?

Mas não importava o quanto lia os livros, todos descreviam Birch como alguém amigável, curioso, ecêntrico e esforçado. A única coisa que ganhei com isso foi um sábado inteiro perdido, como vocês podem imaginar.

Cápitulo 11 - Domingo

No dia seguinte, um domingo, decidi consultar um colega meu para saber se eu perdi alguma coisa importante durante o tempo fora. Claro que eu nunca fui de ter amigos, considerava todas as pessoas de minha idade idiotas, para não dizer outra coisa, mas havia horas em que era preciso ter alguém ao lado, mesmo que servia apenas como escudo humano ou bode expiatório. Esse alguém, no meu caso, era Kevin.

Kevin era... bem, um garoto normal. Talvez um leitor mais crítico ache que essa descrição deixou muito a desejar. Se este é o seu caso, sugiro conhecer meu velho colega, garanto que você não achará nada fora do comum ou que valha a pena comentar. Já jogou aqueles novos joguinhos portáteis baseados na vida dos treinadores? Pois bem, suponho que o leitor tenha se deparado com os NPCs, aqueles personagens de fundo, sem vida, sem cor, sem brilho... E... é isto.

Mas chega disso, retornemos à história. Após uma curta caminhada, cheguei na casa de Kevin, estava como sempre foi: Com uma pequena chaminé no telhado, a tinta das paredes desgastadas, janelas perfeitamente quadradas e o Meowth de alguém estava na porta, deitado no tapete. Nunca me perguntei de quem era. De qualquer forma, ele me comprimentou da janela de seu quarto, desceu e começamos a conversar:

— Rob, tu me mata de medo! — disse o entusiasmático Kevin.

— Ah... claro — respondi, com certo desgosto.

— Nem acredito que sou amigo de uma celebridade! — exclamou Kevin, olhando para o Meowth recém-acordado e acariciando-o.

"Ainda bem que não acredita, porque não é", foi o que pensei em dizer, mas me detive, lembrando da minha experiência anterior, onde eu aprendi sobre a importância da humildade (mesmo parecendo idiota).

— Mas, fala aí... — sussurrou ele — quantas garotas já se declararam pra você?

Ignorei o comentário dele e perguntei:

— Ah, você sabe como é. Mas escuta, aconteceu algo que mereça minha atenção?

— Duvido que os professores passaram alguma coisa que você não sabe, mas eu acho que devia ver esse CD que a professora Cindy fez.

Peguei o tal CD das mãos dele e analizei. Era mal-pintado, com letras vermelhas e tortas que diziam: Para Robin. Presumi que fosse apenas um resumo das lições, então logo compactei-o e coloquei no bolso. Para aqueles que passaram os últimos anos em outro planeta, saibam que, ultimamente, diversos apetrechos aderiram à moda da compatibilidade. Quase tudo podia ser reduzido à pequenas cápsulas.

— Só isso? — perguntei, bocechando.

— Sim.

— Nesse caso, presumo que o verei amanhã