A JORNADA DE ROBIN:

Bloco 15 - "Um dia de normalidades... ou quase"

Capítulo 39 - Nobelíssimo diário

"Desculpe por manter-lhe desatualizado por tanto tempo. Era uma manhã agradável. Não uma manhã boa, mas uma boa manhã. De qualquer forma, acordei e segui viagem para a cidade de Mauville junto com Train e Luna, que pareciam ter se esquecido do que acontecera na noite passada; o incidente com Terry. Ganhei a terceira insígnea sem muitos problemas, capturei um Koffing no caminho e meu Abra evoluiu para Kadabra. Recorda-se dele? Não, naturalmente.

Seguindo para Fallarbor, fomos abordados por um grupo — pouco amigável, aliás. Esperava uma ação por parte de Train ou de Luna, mas o primeiro não estava por perto e a segunda permaneceu parada, como uma estátua. Luna entregou uma quantia de dinheiro sem hesitação e prosseguiu. Ao questioná-la sobre sua atitude, disse que esse era um bando "aliado" ao seu. Que tipo de mundo é o mundo fora-da-lei, de qualquer forma?

Concidentalmente, Train reapareceu no momento em que Luna iniciou uma abrangente — de aproximadamente dez segundos — explicação sobre os bandos. É desnecessário comentar sobre minha confusão, embora tenha compreendido que todos os ladrões seguem um código de conduta, por mais ilógico que pareça. Ladrões são ladrões. Ponto final.

O ponto não finaliza meu relato, infelizmente. Avistamos um homem, de aproximadamente trinta anos, mas não o digo com exatidão, fugindo de uma multidão de mulheres, proclamando as mais diversas difamações contra o fugitivo. Luna e Train aparentemente sucederam em sua tentativa de desviar do tumulto, mas eu fui pêgo por ele.

Admito ter certa experiência com esse tipo de situação, mas creia: nunca fica melhor. Encontro-me sozinho na rota cento e onze (não afirmo absolutamente, devido ao meu Pokénav ainda estar quebrado). O manterei à par do que acontece conforme a situação se desenvolve."

Capítulo 40 - Terry, bandos rivais, etc, etc

— Olha só quem está aqui...

Mal acabei de fechar o diário quando ouvi essa frase, vindo de uma voz bem familiar. Em algum momento enquanto escrevia, homens de trajes militares me cercaram, junto com Terry. Foi uma ação extremamente rápida e eficiente, assim como na visão que Clay havia me mostrado no dia anterior.

— Se é realmente honrado, me dará dez segundos de vantagem — disse, enquanto arrumava minha mochila.

— Mesmo? Farei melhor, neste caso: darei trinta segundos e esses caras aí vão ficar só olhando.

— Mas cara, digo, chefe, com a nossa ajuda vai ser mais rápido! — disse o facilmente reconhecível Billy.

— Ele tem razão, cara, digo, chefe — acompanhou Kid.

Terry, ignorando seus comparsas, iniciou uma série de alongamentos, despreocupadamente. Com equivalente casualidade, preparei-me e andei para fora do campo de vista dos homens. Dali comecei a correr o mais rápido que pude. No entanto, após aproximadamente quinze segundos, voltei até onde estava.

— O que foi, Robin? Você já gastou metade do tempo, sabe? — disse Terry, ainda se alongando.

Corri, corri e corri, apenas para perceber que estava dando voltas pelo local. Talvez devesse fazer algo à respeito do meu senso de direção, mas não tinha tempo para me preocupar; o tempo de vantagem havia terminado. Novamente, Latios me perseguia por céu enquanto Terry me perseguia por terra, emitindo sua perturbadora aura negra. Ultrapassei diversos obstáculos, desviei de Pokémons selvagens, despistei o Latios... e voltei ao ponto inicial, onde Terry agilmente levantou-me pelo pescoço e começou a sugar minha energia novamente.

— Eu não sei o porquê do Train ter salvo você, mas isso não vai ocorrer hoje.

Lutando para me manter consciente, usei as últimas forças que me restavam para agarrar o braço de Terry e desferir-lhe um pontapé. Sem tempo de recuperação, reiniciei minha fuga. No entanto, minha visão estava turva, tudo estava ficando escuro, meu corpo estava parando de funcionar. Podia sentir a grama em minha face, o sol queimando meus olhos, mas não podia reagir. A última visão que tive foi de um rosto um tanto familiar.

Capítulo 41 - Reencontros, organizações, guardas, etc, etc, etc

Acordei. Estava em um acampamento improvisado, com duas barracas feitas com trapos, restos de comida perto de uma fogueira apagada e um garoto sentado no chão com um binóculos, de cabelos curtos, negros e espetados para cima. Ao perceber que havia recobrado a consciência, largou os binóculos e levantou-se, virando para minha direção. Era um tanto difícil descrevê-lo; sua aparência assemelhava-se aos tantos outros rostos que encontramos na multidão, com exceção do uniforme que vestia.

— Acordado? — perguntou com um grande sorriso.

— Suponho. E você seria...?

— Poxa, já se esqueceu de mim, Rob?

No instante em que disse isso, algo como um sino tocou em minha cabeça e várias imagens me invadiram a mente. Como se fosse mágica, de repente lembrei daquele que estava diante de mim: Kevin. Sempre teve aquela aparência comum, mas estudava comigo na classe avançada da escola Pokémon em Littleroot. Por sua perícia na disciplina de preservação ambiental e proteção de Pokémons, foi lhe oferecido uma bolsa na nova escola de Guardas Pokémon em Hoenn. Desde então, nunca mais nos vimos, até o momento atual.

— É isso mesmo. Vejo que conseguiu se tornar um treinador, não é?

— Naturalmente. Mas uma coisa que me intriga é o seu traje, não havia visto algo do tipo em um livro que li.

— Como não sabe o que é isso? Que eu me lembre, você já quis ser um Guarda Pokémon também, não é? Ficou com amnésia?

— Creio que o termo técnico seja esse, de fato.

— Ah — mostrou uma leve, quase imperceptível, expressão de desagrado e voltou a sentar-se perto da fogueira —, acho que tenho que te explicar algumas coisas, se não quiser se envolver em algo perigoso.

Fez um gesto me pedindo para sentar e iniciou sua explicação:

— Você tem que prestar atenção em dois grupos distintos durante sua jornada: os bandos e organizações criminosas. O primeiro grupo você já conhece; o tal Terry e os comparsas são membros de um, o bando do Neil. Uma coisa interessante sobre os bandos é que, mesmo sendo ladrões e diferentes um do outro, seguem à risca um código de conduta. Quer dizer, menos um; o bando do Neil.

Ele foi bem abrangente em sua explicação. Aparentemente, além de Neil, há vários sub-líderes dentro do bando, incluindo Terry. É um grupo bem organizado e disciplinado, diferindo dos demais por diversos aspectos, e sente que por isso não precisa obedecer às normas impostas. Parece justo o bastante.

— As organizações — prosseguiu, — são um caso mais complicado. Tratando-se do crime organizado, geralmente se camuflam dentro da sociedade e controlam o mundo do crime pelas sombras.

Ia perguntar-lhe o porquê de não haver controle sobre o crime, mas ele parecia já ter adivinhado. Um tanto suspeito, eu diria, mas continuei escutando.

— Infelizmente, só as autoridades não são o suficiente atualmente. Temo em dizer que nem tudo são flores no lado da justiça, além do poder das organizações e de outro tipo de poder que temos tido trabalho em contornar... Então, para a investigação de crimes que envolvem Pokémons, um tipo de autoridade especial é convocado; os guardas Pokémon.

— Perdão. Embora isso explique o motivo de você estar observando o bando do Neil, não me parece claro o papel de guardas Pokémon no combate contra o crime.

— Sim, essa não é a função de um guarda comum, mas sim a de um de classe S, como eu. Aliás, não quero me gabar, mas sou o mais jovem guarda Pokémon de classe S — disse com entusiasmo.

Sentia que podia confiar em Kevin e decidi perguntar-lhe sobre Clay.

— Clay? O Clay? Ele realmente entrou em contato com você? — acalmou-se um pouco. — Bem, acho que vou ter que expandir um pouco mais minha explicação. Acredita em magia? Bruxos? — olhei perplexo; a maldição era tão amplamente conhecida assim? — Eles realmente existem, e são realmente perigosos. Até as autoridades, incluindo guardas Pokémon, costumam evitá-los, temendo seus poderes.

De acordo com Kevin, Clay é o enigmático líder da chamada Ordem dos Escolhidos, que nunca foi capturado. Duas forças existem para cuidar dos assuntos envolvendo os "bruxos": a ASI, Agência Secreta de Investigação, que trabalha junto com guardas Pokémon e investiga também o crime organizado, e os caçadores. Os dois grupos agem independentemente e possuem métodos próprios de ação.

Capítulo 42 - Sumário

"Bandos, organizações secretas, crime organizado, caçadores, bruxos... céus, por que estou envolvido com tudo isso? Não importa, ficarei bem com Kevin enquanto procuro por Luna e Train. Mas algo não se encaixa na história contada por Kevin. Dividindo em mocinhos e bandidos, temos as autoridades, os guardas Pokémons, os caçadores e a ASI do primeiro lado e os bandos, bruxos e organizações criminosas do outro. Mesmo não estando diretamente envolvido com Clay, não é verdade o fato de Kevin e eu estarmos em lados diferentes?

E por que havia duas barracas se somente Kevin estava ali, supostamente investigando o bando do Neil? De qualquer forma, vi pelos binóculos uma briga entre bandos, sendo que o lado de Terry saiu vencedor, embora tenha ficado fadigado depois. Já está de noite, e nenhum sinal do meu grupo. Kevin não está por perto e é melhor não me envolver muito com um Guarda Pokémon. Não enquanto estiver enrolado nessa história de maldição e estiver acompanhado de uma ladra."

Fechei o diário e saí sorreteiramente do local, enquanto tinha a impressão de estar sendo seguido por algo ou alguém ainda mais sorrateiro. Sob pressão pela sombra que se movia junto comigo, dei alguns passos e repentinamente olhei para trás, apenas para me deparar com um pequeno Pokémon. Andei de costas, olhando para todos os lados, desconfiando de cada canto.

— Desculpe, Robin — disse Kevin, que se revelou em minha frente.

Após ouvir essa frase, bati em algo enquanto me afastava do Guarda. Não pude virar para ver quem era; senti uma agulha perfurando meu pescoço e, logo após, um torpor tomou conta de meu corpo.

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