A JORNADA DE ROBIN:

Bloco 5 - Início da jornada


Capítulo 15 - O Gyarados gigante

— Robin? Robin? Consegue falar?

Essas foram as palavras ditas pelo professor, à medida que meus olhos abriam e testemunhavam, pouco a pouco, a forte luz solar.

— P-professor? — tossi um pouco de água, fiquei de joelhos e continuei — Onde estamos?

— Hahá, não saimos do lugar onde estávamos antes — respondeu Birch, com um sorriso leve no rosto.

Olhei ao meu redor e confirmei: Estávamos na beira do lago, e, ao olhar para o meu relógio, vi que se passaram poucos minutos desde que cheguei ao local. Do outro lado do lago, ainda era possível ver as coisas do professor.

— Eu pensei que teria que esperar mais tempo para ver o lendário Pokémon gigante, mas como já fiz minhas anotações, não vejo porquê continuar aqui — pausou por um instante para checar suas anotações, que ficaram encharcadas, soltou um suspiro de desapontamento e prosseguiu — Vou voltar para o laboratório agora, quer vir comigo?

— Espere um instante! — repliquei — Você sabe o que aconteceu aqui?

— Ah, é mesmo, você teve a chance de vê-lo também, não é? Bem, houve relatos de pessoas dizendo que viram uma criatura gigantesca saindo de lagos próximos às cidades — disse calmamente.

— Sim, lembro-me de ter visto uma reportagem sobre esse fato.

— Pois bem, eu analizei todos esses relatos e presumi que eles eram verídicos, e que a criatura em questão era um Pokémon.

— Está querendo dizer que planejava ficar por aqui até confirmar com seus próprios olhos? — perguntei, espantado.

— Nem mesmo eu sou tolo a esse ponto! — respondeu enquanto ria — Eu também verifiquei a relação entre os lagos, para chegar a um padrão do comportamento dele.

— E o próximo lago seria esse?

— Exato! — disse com entusiasmo — Se eu tivesse sorte, poderia vê-lo com meus próprios olhos antes de qualquer outro pesquisador! Porém...

— ... o problema estava no fato de não haver um horário definido para o Pokémon aparecer — completei.

Nesse momento, o professor deu um largo sorriso e foi pegar suas coisas no outro lado do lago. Quando retornou, tinha uma pergunta pronta:

— Como eu pensei, você é muito inteligente — fez uma pausa — mas será que consegue responder corretamente uma pergunta minha?

— Creio que sim — disse eu, com segurança.

— Então me diga: Por que eu, sem nenhuma evidência real, decidi ficar nesse lugar, com o risco de ser atacado por Pokémons selvagens, durante um período indeterminado?

Ele olhou para mim seriamente, provavelmente já pensando que eu não soubesse a resposta, visto que, para ele, eu não era mais do que uma farsa. Refleti por um tempo, considerando a hipótese daquilo ser um teste para determinar se eu merecia minha licença. Após um tempo, ele abriu um sorriso um tanto malicioso e perguntou:

— Nada? — questionou, preparando-se para dar a resposta.

Fitei-o com um certo ar de deboche, entrelaçando meus dedos por trás da cabeça, dizendo:

— Meu silêncio se deve ao fato de não haver resposta — disse eu, para surpresa de Birch.

— Não há resposta? — indagou.

— "Pessoa ou ciência alguma consegue explicar o fascínio exercido por Pokémons, só um tolo tentaria" — disse, enquanto o professor cruzava os braços, com um sorriso.

— Então, agora se lembra, não é?

De fato, algum tempo antes, quando tinha sete anos, lembro de ter ido visitar o laboratório do professor com a classe e entrado em sua sala escondido, para ver se conseguia extrair algum segredo. Sobre a mesa, havia um diário, contendo os pensamentos do professor. Falava principalmente de um livro que pretendia lançar e abalar o mundo Pokémon. As ideias contidas nele eram ótimas, com conhecimentos interessantes e uma boa base, mas não pude ler todos os detalhes, pois tive que ler o diário todo rapidamente, o que sei é que se tratava de um projeto pessoal secreto, só conhecido pelos pesquisadores próximos e amigos.

No entanto, esse entusiasmo foi se perdendo nas páginas, onde ele relatou os obstáculos e impossibilidades, além da falta de apoio dos amigos, falando sobre o fato dele estar tentando transmitir conhecimentos não-dominados por ele mesmo. Como se não bastasse, o professor decidiu mostrar um esboço da base do livro para um especialista, que o deu fortes críticas e aconselhou-o a desistir do projeto, cujas páginas estavam destinadas a ficarem perdidas na biblioteca, dentro da seção de humor.

O diário começou a falar cada vez menos sobre o livro, até uma certa parte, dizendo que o projeto estava destinado a falhar, era realmente impossível desvendar todos os mistérios desse mundo, não tinha como terminar ou começá-lo. Começou a fazer parágrafos e mais parágrafos cheios de pena própria, o que me incomodava, mas continuei a ler, até encontrar trechos dizendo que talvez fosse melhor se os Pokémons não existissem, criaturas sub-desenvolvidas, atraentes aos olhos humanos. "Por que alguém perderia tempo com isso? Foi o que eu tentei explicar, mas falhei. Miseravelmente."

Nesse momento, fui tomado por uma cólera intensa e rasguei todas essas páginas do diário, parando na parte onde dizia:

"Pessoa ou ciência alguma consegue explicar o fascínio exercido por Pokémons, só um tolo tentaria."

Marquei essa frase em particular com uma caneta e me retirei da sala rapidamente.

— Sabe — disse o professor em um tom calmo — nunca pensei que uma criança fosse me ensinar uma lição.

— Como você sabia que fui eu quem fiz aquilo?

— Não foi difícil, só tive que fazer uma pequena pesquisa.

— Foi por isso que você não me denunciou naquele incidente?

— Sim, eu fiquei um tanto desapontado com aquilo — disse o professor, com uma cara fechada — mas continuei acreditando no seu potencial, afinal, você me indicou que eu estava no caminho errado, traindo e esquecendo meus próprios ideais.

Nós dois ficamos ali no lago por um tempo, conversando sobre Pokémons em geral. No final, ele lembrou:

— Puxa, é mesmo! Você veio aqui para conseguir sua licença, certo?

— Ah, obrigado por lembrar, pode me dar o que eu preciso agora?

— Sim, eu sempre tenho comigo, deixe-me ver... — nesse momento, Birch pegou suas coisas — Aqui está!

Ele me deu tudo aquilo necessário para se iniciar uma jornada: Uma identificação como treinador, um conjunto de pokébolas, o Pokénav, e, finalmente, a escolha entre três pokémons: Torchic, Mudkip e Treecko. Como havia planejado, decidi ficar com o Mudkip, do tipo água.

O professor Birch disse que já estava indo e perguntou-me se queria ir com ele para a cidade. Neguei, afirmando querer começar minha jornada imediatamente e chegar até Petalburg o quanto antes. Sim, eu havia me esquecido do fato de estar com alguns equipamentos emprestados do meu pai, mas não importava agora.

— Ah, lembre-se de não contar a ninguém sobre o meu livro, certo? — perguntou Birch.

Fiz um sinal de positivo com a cabeça e nos separamos.

Capítulo 16 - O encontro

Era tarde quando passei pelas rotas iniciais e cheguei até a cidade de Oldale, portanto decidi simplesmente dormir em uma pequena hospedaria e levantar cedo para compensar o tempo perdido no lago. Meu quarto era simples, com móveis feitos de madeira básica, tendo um tamanho compacto e visual um tanto rústico. De qualquer forma, deitei-me, ancioso pelo dia de amanhã e fechei os olhos... Por um segundo.

Logo despertei, com um ruido insuportável, vindo de minha cabeça. Sem muito controle sobre minhas ações, peguei a mochila contendo as minhas coisas e deixei meu corpo mover-se sozinho pela cidade, onde vi um grupo de pessoas correndo atrás de algo locomovendo-se incrivelmente rápido, diria que se aproximava da velocidade do som, mas não tenho certeza, estava impressionado demais para checar. No entanto, pude ouvir claramente o que diziam:

— Ladra, volta aqui! — gritavam em coro os moradores da cidade.

E por mais estranho que a história esteja, ela fica ainda mais, quando meu corpo descontrolado me leva até um canto escuro, onde avisto uma criatura magnífica, com pêlos brancos reluzentes, me encarando de cima de um telhado, expandindo a beleza da lua cheia. Quando pulou e veio até mim, vi que se tratava de um Absol, muito provavelmente o daquele dia, mas era impossível confirmar na hora. Minto, era impossível confirmar e ponto final. Todos os Absol são iguais, oras.

De qualquer modo, o tal Absol se tornou minha montaria — mais especificamente, me fez montar nele — e juntos fomos, à uma velocidade similar à da suposta ladra, até encontrarmos uma parte oculta na cidade, onde eu vi um pequeno bosque e uma garota de cabelos vermelhos, consideravelmente bonita, esvaziando seu saco, ao lado de um Luxray. Nessa ocasião, percebi que podia me mover novamente, portanto, olhei para os lados procurando pelo Absol — que sumiu — e decidi sair silenciosamente, por querer evitar qualquer envolvimento com a tal garota, que, aparentemente, era realmente a ladra.

Virei-me silenciosamente, dei alguns passos e olhei para trás para ter a certeza de não estar sendo seguido. O que eu não havia percebido era o fato do Absol ainda estar ali e me surpreendi quando vi sua cara ao me virar, causando um sonoro grito de terror, potente o suficiente a ponto de despertar os Pokémons que ali dormiam. Eles, por sua vez, não hesitaram em me perseguir, causando um verdadeiro estardalhaço. Quis montar no meu companheiro indesejado, porém, a criatura não estava por perto no único momento em que precisei dele, o que me irritou, mas meu desespero pela perseguição continuou imutável, até ver um vulto veloz, de onde saiu um braço extendido, me oferecendo ajuda, ou, pelo menos, era o que eu achava.

Logo identifiquei o vulto e a pessoa que me ofereceu a mão como sendo o Luxray e a garota de antes, que parecia extremamente irritada:

— Quem é você? — perguntou em uma velocidade tão rápida que eu nem pude entender na hora — falando contigo, responde!

Apesar de estar um pouco irritado com o tom de voz e a velocidade frenética, notei também algumas características da ladra misteriosa: Ela vestia uma roupa escura, com uma touca igualmente escura — capaz de camuflar qualquer um durante um pequeno "ataque noturno" — e alguns acessórios no cinto. Por baixo da toca, havia um cabelo de cor vermelha bem forte, cor que também caracterizava seus olhos. Ao abrir minha boca para fazer um pequeno comentário, ela disse:

— Ah, esqueçe — suspirou. — Vamos sair daqui antes.

A perseguição não durou muito, conseguimos despistar os Pokémons raivosos, porém, a garota pareceu não notar isso e continuamos fugindo até acabarmos saindo da cidade por uma rota que nos levou à uma floresta de difícil passagem, por causa dos galhos baixos que ali haviam. Minha companhia pareceu não ter dificuldade em desviar dos obstáculos, mas eu estava desacostumado a me locomover naquela velocidade, apesar de conseguir aguentar bem por um tempo.

— O que foi, cara, não consegue aguentar um pouco de velocidade? — perguntou, em tom de zombação — Se quiser, desce.

— Ficou louca? — exclamei — Além do mais, os Pokémons não estão nos seguindo, pode parar!

— Eu fujo de Pokémons a mais tempo que você, pivete, sei quando eles param de nos perseguir — argumentou, em um tom mais calmo, porém, ainda frenético. — Então vê se me deixa.

— Olha pra trás se não acredita!

— Oras, me irrita! — replicou com fúria, e segurou-se firme no "cúmplice". — Pode parar, Luxray!

— Não, espera, Lux... — foram minhas últimas palavras antes de ser arremessado pela força da inércia, causada pelo freio repentino.

Acostumado com arremessos, deixei-me levar e fechei os olhos, tentando cobrir minha cabeça, antes de bater em um galho. Não parando por aí, continuei voando à toda velocidade, atingindo todos os obstáculos no caminho, eventualmente cansando meus braços, deixando minha cabeça desprotegida. Em um impacto final, feri gravemente minha testa e cai no chão, apenas para bater a parte de trás do crânio em uma pedra. Pouco antes de desmaiar, no entanto, vi um Absol me observando por cima de uma das árvores.

Capítulo 17 - Um novo início

Acordei em um lugar estranho, parecia uma pequena cabana, e decidi sair para ver o que estava acontecendo. Mas antes de levantar, senti uma forte dor na cabeça e apalpei-a para verificar, notando a faixa. Voltei minha atenção à cabana e tentei me lembrar da noite anterior. Nada. Pensei então no que havia feito no dia anterior. Novamente, não conseguia pensar em nada. Mas eu entrei em pânico quando fiz uma pergunta básica e falhei ao responder: Quem sou eu?

Saí da cabana correndo, e vi uma garota de cabelos vermelhos, vestindo calças azuis, uma camisa escura simples com um desenho de caveira e uma touca escura, preparando sopa. Parecia ter uns quinze ou desesseis anos.

olhando o quê, vovô? — na hora não sabia que ela estava se referindo aos meus cabelos acinzentados.

— Gostaria de perguntar sobre mim... digo, você sabe...

— Mas, ein? — indagou a garota — A pancada mexeu com sua cabeça, ou algo do tipo?

— Perdão, mas eu lhe conheço? — perguntei formalmente.

— Luna — respondeu prontamente. — E você é...?

— Perdão novamente, mas eu assumi que você poderia responder essa pergunta.

— Como? E por que falando todo chique, que nem doutor? — perguntou em ritmo acelerado.

Sentamos no chão e tentei explicar a situação da melhor forma possível, pausando constantemente para explicar o significado das palavras inexistentes no vocabulário da criatura. Mal eu havia terminado e Luna se levantou, aparentemente para fazer uma pequena reflexão enquanto andava. Decidiu então entrar na minha cabana e eu a segui para vê-la mexendo nas minhas coisas, ou, pelo menos, deviam ser minhas. Logo achou algo que chamou sua atenção, devido ao seu sorriso, misto de alegria e malícia. Parecia ser algum tipo de identidade, mas não pude ver direito porque ela logo botou de volta no lugar e se apressou para fora da cabana, me empurrando.

— Então, vamos batalhar! — disse euforicamente.

— Como?

— Sabe, uma batalha Pokémon, você escolhe um e derrota o oponente, não tem coisa mais simples!

Além da explicação mal-feita, falhei ao compreender por causa da fala extremamente rápida de Luna.

— Ah! — lembrei vagamente dos Pokémons e do básico de batalhas — Mas, qual é o motivo para uma batalha?

— Se você for realmente o tal "garoto-milagre" das notícias, vai me derrotar fácil!

— "Garoto-milagre"?

— É, Robin Appleton, nome difícil, ein? O estudante que nem tinha Pokémons e salvou uma cidade inteira de um ataque. Todos falavam sobre isso quando cheguei em Hoenn.

— E por um acaso isso é motivo suficiente? — indaguei, já um tanto aborrecido com a garota.

— Claro que é! — riu intensamente — Se eu não te achar útil, fica por aqui mesmo.

Nesse momento, parei para refletir, e percebi que ela tinha razão. Pelo que parecia, eu não conhecia Luna mesmo antes de perder a memória, mas não podia deixar a vida me levar por aí, sem rumo.

— Estou de acordo em viajar com sua companhia, desde que você dê os deta... — fui interrompido bruscamente pelo dedo indicador da garota.

— Esquece, pomete que vai me ajudar com o que eu precisar, e eu te ajudo com a sua coisa.

Imaginei que por "sua coisa" ela estivesse falando da minha perda de memória.

— Aceito sua proposta.

— Ok, Robin, vamos lá!