A JORNADA DE ROBIN:

Bloco 7 - Manual de Batalha Pt.2

Capítulo 21 - Uma batalha inesperada

Luna espantou-se, mas admitiu a derrota e congratulou-me logo após o término da partida. Também informou que, mesmo sendo um Pokémon evoluído, seu Luxray foi treinado focando-se na velocidade, investindo o necessário em força e pouquíssimo em defesa, razão de sua derrota. Curioso, perguntei o motivo de tal treinamento pouco prático e difícil.

— Meu Luxray não serve pra lutar, oras — disse como se fosse algo óbvio, — é pra me ajudar no trabalho.

— Falando no dito trabalho, o que... — fui interrompido por uma forte dor de cabeça.

Notando meu mal-estar, Luna sugeriu que eu descansasse na cabana por mais um tempo. Pela hora do almoço, estava melhores condições e tirei os esparadrapos de minha cabeça, enquanto buscava algo que me ajudasse a lembrar da minha vida. Encontrei em uma mochila um kit básico de sobrevivência, uma corda forte, um facão, um Pokénav, uma identificação de treinador, entre outras coisas em forma de cápsulas compactadas. Certamente uma mochila útil, mas nada servia para meu objetivo, exceto pela identificação, que não me elucidou muita coisa.

Fui chamado por Luna e almoçamos junto aos nossos Pokémons, cujos pratos foram enchidos com alguma ração enlatada de aspecto pouco agradável. Fiquei receoso quanto a deixar Mudkip provar daquilo, mas logo distrai-me com os Pokémons da garota. Tirando Luxray, eram dois (um Combusken e um Seedot), cujos nomes eu não me recordava na hora. Notei também a serenidade de Luna enquanto comia, mesmo que ela desviasse a cara toda vez que percebia minha observação. Tentei quebrar o silêncio:

— Por quanto tempo vem viajando?

— Um bom tempo — respondeu secamente.

— Ah, certo — disse, finalizando o assunto.

Mesmo sabendo ser difícil estabelecer um diálogo, tentei novamente:

— Pode me contar o que você sabe sobre mim?

— Talvez depois — respondeu sem tirar os olhos do prato, — mas agora come aí.

Finalizada a conversa, nos preparamos para seguir viagem, seja lá para onde fosse. Vi alguns livros compactados na mochila e após uma breve lida já havia assimilado o conteúdo e reconheci os Pokémons vistos anteriormente. Não sabia se possuia algum tipo de intelecto superior ou se era minha memória voltando, mas fiquei surpreso de qualquer maneira. No chão da cabana, encontrei um diário abandonado, que me alegrou muito, até folhear suas páginas vazias. Mesmo decepcionado, decidi iniciá-lo, descrevendo minha manhã.

Ocasionalmente usarei alguns relatos do tal diário por terem utilidade no desenvolvimento da história, mas darei preferência à minha narrativa usual na maior parte do tempo.

Mal tinha saído da cabana e Luna já estava a uns dez metros de distância, andando despreocupadamente. Segui-a sem muita escolha, mas peguei o Pokénav só para garantir que não acabássemos no meio do nada ou em um lugar perigoso.

— Não lhe tiro o direito de permanecer calada — disse polidamente, — mas eu agradeceria se pudesse...

— Robin Appleton — interrompeu-me, — ouvi muito esse nome quando cheguei em Hoenn e me falaram que era algum tipo de gênio que salvou uma cidade de uma invasão de Pokémons.

— Ah — me espantei com a disposição que respondera sem nem ouvir a pergunta, — então...

— Só sei isso — respondeu sem desacelerar o passo.

Satisfeito com a primeira tentativa de diálogo, elaborei algumas questões mentalmente e estava pronto para compartilhá-las com Luna, até que a mesma ouviu alguns passos, pulou para atrás de uma moita, e puxou-me com violência para perto dela. Agachados, observamos um sujeito suspeito de sobretudo deixando sua maleta em cima de uma pedra e seguindo em frente.

— Tem uma cápsula livre? — indagou a garota.

— Refere-se à uma cápsula de compactação? — indaguei de volta.

— Não, eu queria uma cápsula de... — pareceu tentar fazer uma piada, mas suas palavras saíram tão rápido que falhou. — Ah, responde logo, vai.

— Aqui está — disse oferecendo uma cápsula.

Luna compactou a maleta e continuou a caminhada, sempre para frente. Avistamos uma área mais aberta e minha companheira recomendou que eu me preparesse para uma batalha. Parou um pouco, pegou a maleta e tirou duas das cinco pokébolas de lá, uma para cada. Ao chegar lá, iniciou uma conversa com dois homens que pareciam estar nos esperando:

— Escolheram o pior jeito, né?

— Não, vocês escolheram o pior jeito, doçura — respondeu um dos homens, que tinha um pequeno bigode, usava grandes e redondos óculos escuros, e vestia um uniforme com um grande "N" no meio da camisa.

— Todos já sabiam que isso ia acontecer — comentou o outro homem, que usava o mesmo uniforme, mas não tinha óculos nem bigode, — mas não era só um a vir? Trouxeram uma garota também?

— Você é burro assim mesmo? — caçoou Luna. — Esse cara aí não é do grupo, ele pode muito bem vir também, mesmo eu podendo cuidar de vocês sozinha.

— Pirralha, vou fazer você me respeitar — esbravejou o homem de óculos.

O vento soprava fortemente no campo aberto, as folhas do chão e das árvores agitavam-se, e os dois lados permaneciam imóveis, um encarando o outro. Decidi entrar no clima também, mas era tarde demais: os três pularam para trás e jogaram suas pokébolas, liberando um Aggron, um Dusclops, e um Glalie

— Ei cara, vai ficar parado aí? — exclamou Luna. — Usa o Pokémon que eu te dei!

Obedecendo as ordens, arremessei minha pokébola e corri para ficar o mais longe possível daquela batalha assustadora. O que saiu de lá foi um Medicham; nada mal, mas estava inseguro sobre minha vitória. Mal comecei a formular um plano e a batalha já havia iniciado.

— Glalie, frio abso... — gritou Luna, antes de ser interrompida.

— Não, Luna! — disse eu, freneticamente. — Esse golpe pode não funcionar nos oponentes e afetar meu Pokémon!

— Dusclops, soco de gelo no Medicham! — ordenou o homem de óculos.

— Aggron, cabeçada no Medicham também! — emendou o segundo oponente.

Distraídos por nossa discussão, Luna e eu só fomos perceber a investida dos adversários quando eles já estavam perto. Sentindo o perigo com seu sexto sentido, Medicham instantaneamente utilizou confusão no grande Aggron, mas Dusclops não parou seu ataque, sendo neutralizado por Glalie.

— Medicham, soco de fogo no Aggron! — disse após acordar para a realidade.

— Glalie, mordida no Dusclops! — acompanhou Luna.

Com isso, os dois Pokémons adversários se afastaram para recuperarem-se.

— Medicham, meditação!

— Glalie, nevasca!

— Aggron, defesa de ferro!

— Dusclops, desvie!

Enquanto Medicham aumentava sua força ao meditar, Glalie tentava atingir o oponente com o Nevasca. Aggron estava confuso e recebeu o golpe em cheio, mas Dusclops desviou.

— Luna, eu acho que posso derrotar Aggron, você fica distraindo o Dusclops até eu acabar — sugeri calmamente.

— Aggron, defesa de ferro! — ordenou o homem enquanto eu falava.

— Eu faço o que eu quiser — retrucou teimosamente. — Glalie, nevasca denovo!

— Dusclops, soco das sombras no Medicham!

— Não venha me pedir ajuda depois — disse olhando friamente para Luna. — Consusão no Dusclops!

Dusclops conseguiu desviar do ataque de Glalie e não foi afetado pela confusão do Medicham, enquanto Aggron congelou-se. Quando o ataque ia acertar Medicham, ordenei:

— Medicham, esquive-se e levante o Aggron com seus poderes psíquicos!

— Cara, esse garoto perdeu o juízo? — indagou-se o homem de óculos.

— Não sei, mas desse jeito vai perder a luta, cara — gabou-se o outro.

Medicham lutava desesperadamente contra Dusclops na tentativa de pegar Aggron, até conseguir atingir um golpe no adversário e ser nocauteado logo em seguida. O alvo, Aggron, libertou-se do estado congelado e estava pronto para a ação. Confiantes de suas vitórias, os dois adversários começaram a conversar entre si:

— Cara, eu nunca pensei que fossem mandar um garoto tão burro — disse rindo o homem que derrotou Medicham.

— Sim — concordou o outro, — mas ainda tem aquela outra garota pra...

— Hã? Por que parou no meio da frase?

— N-não tá sentindo o frio, cara? — disse amedontrado.

Ao olhar ao redor, notou que estava nevando e tudo estava congelado. Ao procurar a fonte daquela mudança climática repentina, encontrou Glalie, que estava preparando algum ataque.

— Glalie, frio absoluto! — disse Luna.

— Dusclops, evasiva, agora! — gritou desesperadamente o homem de óculos.

— Aggron, evasiva também! — emendou o outro.

Nenhuma das ordens adiantou: com um único ataque, Glalie derrubou Dusclops e Aggron, que logo perderam a consciência e o combate.

Capítulo 22 - Criminosos

"Ontem certamente foi um dia turbulento: não só tive que batalhar contra Luna de manhã como enfrentei dois homens suspeitos à tarde. Porém, antes de entrar no combate, perguntei à Luna sobre os Pokémons dentro das pokébolas e ela me respondeu em detalhes do que a situação se tratava.

Bem, não em tantos detalhes porque ela estava com aquela pressa usual, mas pelo menos eu tomei conhecimento da batalha que estava prestes a acontecer e logo formulei um plano: precisávamos convencer os oponentes de que não sabíamos trabalhar em equipe e fazê-los pensar que estavam em vantagem ao derrotarem Medicham, distraindo-se do combate. Enquanto estavam alheios à situação, Glalie iria usar Nevasca e logo em seguida o Frio Absoluto, vencendo a batalha. Naturalmente, quis saber no que estava envolvido depois disso. Agora arrependo-me de ter perguntado, talvez seria melhor permanecer ignorante."

Como escrito no diário, vencemos a batalha e os dois homens fugiram, revoltados por terem perdido. Chamamos os Pokémons de volta para as pokébolas e guardamos na maleta, que Luna deixou na mesma pedra onde pegou e seguiu viagem, como se nada tivesse acontecido. Irritado, protestei contra essa atitude e exigi respostas imediatas. Quem ela pensa que é, me envolvendo em coisas perigosas como essa sem dar explicações?

Infelizmente, como também escrito no diário, preferiria não saber a resposta.

— Lembra que me disse que ia me ajudar com o que eu precisasse, certo? — indagou Luna.

— Pois sim.

— Bem, eu sou de um grupo de ladrões, então você também vai ter que ser.

— Perdão? — disse chocado. — Você não pode estar seriamente afirmando que você é uma criminosa e eu não tenho escolha a não ser me juntar a vocês...

— Pois eu seriamente afirmo, senhor — respondeu brincando, como se fosse algo engraçado. — Aquilo que você viu antes foi uma batalha entre meu grupo e a tal Equipe N, uma organização criminosa nova que se intrometeu em um roubo nosso e queria parte da bufunfa.

— Bufunfa... — disse eu, sem saber o que pensar daquilo tudo.

— Quando dois grupos se enfrentam, cada um tem que lutar com dois Pokémons escolhidos pelo chefe — esclareceu, sem pausar uma única vez. — Entendeu tudo agora?

— Me questiona para saber se compreendi tal situação irracional? — retruquei furiosamente. — Quais os eventos que virão a seguir? Sequestrar alguém?
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— Eu tentei isso naquela noite, mas não deu tão certo assim. Aliás, não tenho novas ordens por enquanto, então a gente livre pra fazer qualquer coisa — disse enquanto se arrumava para ir.

— Espere, então eu faço parte desse grupo também?

— Ainda não, tem que passar pelo teste na base do grupo em Rustboro, mas consegue fácil, né? — disse com um sorriso malicioso. — Daí aproveita e desafia a líder de lá.

— Líder?

— Esqueceu até isso? Ah, lê um livro ou guia quando chegar na próxima cidade — finalizou Luna.