A JORNADA DE ROBIN:

Bloco 8 - Encontros

Capítulo 23 - Encontro com Absol

Enquanto seguia viagem, li algumas páginas de um livro que me ajudou a lembrar dos conceitos básicos de Pokémons, treinadores, líderes de ginásio, e batalhas no geral. Não demorou muito até chegar à cidade de Rustboro, onde devia tomar o suposto teste para entrar no bando de Luna; não que eu estivesse ancioso para isso, mas não havia alternativa. Minha companheira parecia estar ignorando o fato de eu estar andando mais vagarosamente para ler e andava em passos rápidos e longos, como se quisesse me deixar para trás. Mas de qualquer forma, passamos a noite em uma estalagem da cidade, em quartos separados.

Após dar uma revisão no que havia aprendido com o livro, meus olhos fecharam-se naturalmente e meu corpo deitou-se de forma suave na cama não muito confortável do lugar. No entanto, passados alguns minutos, decidi levantar da cama para dar uma olhada pela janela; não sabia o porquê disso, mas sentia uma necessidade de ver a cidade. E qual foi minha surpresa ao deparar-me com um espaço irracional e confuso, com prédios flutuantes e um céu colorido com os mais diversos tons de vermelho?

Tentei abandonar a estalagem imediatamente para verificar a existência do lugar aparentemente imune às leis da física, mas fui impedido por uma máscara flutuante, de visual asqueroso e tamanho gigantesco. Tomado pelo susto, decidi verificar se não estava alucinando ou sonhando, mas tudo parecia real, não conseguia acordar. Em uma tentativa de sair desse espaço absurdo, fechei os olhos de imediato e ao abri-los, ele estava em minha frente, em carne e osso. Sim, o Absol misterioso, minha única lembrança além do meu próprio nome. Como se a situação já não fosse bizarra o suficiente, a criatura decidiu aumentar o grau de insanidade ao iniciar um discurso:

— Então, como tem passado esses dias, rapaz?

Não conseguindo achar um meio de expressar-me diante disso, preferi permanecer calado, encarando-o.

— Me ignorando? — indagou em tom de deboche. — Por favor, pensei que já havíamos passado dessa etapa, não?

— Por acaso espera algo de mim? — perguntei após recuperar-me do choque. — Não vejo que direito tem de sequer dirigir-me a palavra.

— Quando a hora chegar, vai ter pelo menos mil palavras para agradecer-me, jovem.

— De maneira alguma agradecerei à uma criatura selvagem como você.

Uma fumaça emergiu do chão e a criatura transformou-se em um homem de aparência idosa e voltou a dirigir-me a palavra:

— O que acha dessa forma?

— O que acha que devo achar? Já vivenciei sonhos muito mais interessantes...

— Não minto — diz, voltando à forma original. — De fato, isto não é real, mas quem não garante que a realidade que você afirma ser verdadeira é mais real do que esta?

— Obrigado, mas não pretendo ter uma aula de metafísica agora, apenas me responda: quem é você? — perguntei, em tom impaciente.

— Digamos que minha função é aplicar um pequeno teste àqueles como você.

— Não creio que isso elucide minha dúvida.

— Provavelmente já deve ter notado o aumento daquilo que você considera uma maldição, não é verdade? — perguntou, ignorando meu comentário. — Pois bem, temo que isso não vai terminar até que domine a energia negativa que eu implantei em você.

— Como eu imaginei, você foi o responsável por isso. Mas como eu faço parar? E o que é energia negativa?

— É um teste, não teria graça dizer como completá-lo — disse, após virar-se de costas. — Adeus, nos encontraremos novamente em outra ocasião.

— Espere — corri para impedi-lo enquanto a porta se abria, — isso não ajudou em nada! Por que você me escolheu? O que lhe dá o direito de me testar?

Meus esforços foram todos em vão, uma vez que ele já havia deixado o lugar. Olhei novamente para a janela, e tudo estava como no dia anterior. Procurando minha cama, vi-me deitado, dormindo despreocupadamente, e notei que estava transparente. Sem saber direito o que fazer, tentei "entrar" no meu corpo, e despertei do sono. Perplexo, levantei de imediato e pensei na noite passada.

Por não saber o que pensar daquilo tudo, decidi simplesmente ignorar o que havia acontecido, já que de qualquer maneira, minha vida ainda estava na mesma situação.


Capítulo 24 - Encontro com o selvagem

A luta contra a líder, Roxanne, não durou muito; meu Marshtomp sozinho foi mais do que o suficiente para derrotar todos os Pokémons adversários. Imaginava um desafio bem maior vindo de uma treinadora tão experiente, mas deixemos isso de lado. Chegando no Centro Pokémon para deixar o meu descansando por um tempo, deparei-me com algo que deveria ser chocante para uma pessoa comum, mas não para mim: uma tentativa de roubo. Você provavelmene já sabe quem é o criminoso, ou melhor dizendo, a criminosa. Decidi simplesmente dar meia-volta antes de ficar mais envolvido nisso, mas o forte temporal que iniciou-se de repente me forçou a entrar no local.

— Robin! — exclamou Luna, esmagando completa e totalmente minha tentativa de não me envolver. — De volta tão cedo?

— Com licença, senhorita? Eu lhe conheço de algum lugar ou evento? Não me recordo...

— A gente brinca de amnésia depois, cara — jogou uma bolsa cheia de pokébolas roubadas nos meus braços, — eu preciso sair daqui agora, sabe?

Aparentemente, ela estava tão concentrada em seu roubo, que falhou em notar o temporal terrível. "Tão concentrada que foi pega no flagrante", pensei. Talvez ela não fosse tão habilidosa em roubos quanto eu imaginava. De qualquer maneira, nosso diálogo foi interrompido com a chegada de um garoto, com aparentemente a mesma idade de Luna, cabelos compridos e despenteados, fones de ouvido, e roupas desgastadas. Verdadeiramente um selvagem que gosta de fones.

— Eu não sei quem vocês lixos são — olhou para mim e depois para Luna, — mas eu vou dar uma chance pra saírem daqui. Agora.

Provavelmente ele sabia do temporal, mas não se importava com isso, parecia nem considerar que éramos seres humanos. Examinei-o de baixo para cima e disse:

— Interessante escolha de roupas, muito estilosa, de fato.

— Roupas só importam pra lixos como você — respondeu após alguns segundos de silêncio.

O destaque que ele dava para a palavra lixo era bem irritante, mas antes mesmo que eu pudesse reagir, Luna cochichou no meu ouvido:

— Cara, a gente tem que aproveitar a chance pra fugir.

— Creio que há um pequeno problema com essa estratégia — apontei para uma janela próxima para mostrar o temporal.

Luna pareceu um tanto envergonhada ao perceber isso só agora e soltou um suspiro de desapontamento. Voltou sua atenção ao garoto e disse:

— É, parece que não vai dar pra sair agora — deu uma risada inocente.

— Eu não ligo se o mundo está acabando — tomou uma posição de luta. — Ou vocês vão embora, ou eu vou imobilizar vocês até a polícia chegar.

Luna pegou-me pelo braço e foi para um canto do Centro Pokémon para ter uma conversa particular.

— Escuta, você é inteligente e tal, não é?

— Foi uma pergunta retórica ou verdadeiramente espera uma resposta?

— É, imaginei que diria isso — olhou para os lados e continuou. — Já que é assim, eu vou lutar com esse cara e você pensa em algum jeito da gente sair daqui.

Por mais que eu quisesse protestar e sugerir uma rendição, lembrei que ela tinha me envolvido nessa situação, então era mais do que justo ela ter que enfrentar o sujeito. Enquanto os dois encaravam um ao outro e as pessoas assistiam a tudo sem piscar uma única vez, eu entrei em uma sala dos fundos, onde encontrei uma sala de tamanho médio, com diversas gavetas. Como era um lugar vazio e pacífico, decidi meditar por alguns minutos, pensando em algum jeito de escapar.

Antes de qualquer coisa, notei que algumas gavetas estavam abertas, e dentro delas, haviam espaços redondos, que provavelmente seriam preenchidos com pokébolas. Com o saco que Luna me deu ainda em minhas mãos, devolvi o que ela havia roubado para evitar mais problemas e comecei a andar em linha reta, passando pelas portas no caminho, até encontrar uma entrada para o subsolo. Devo confessar que na ocasião não achei estranheza em achar uma coisa dessas em um centro Pokémon, estava mais preocupado em fugir.

Ao descer as escadas, deparei-me com um ambiente escuro e ameaçador, cercado por uma atmosfera pesada. Não foram necessários muitos passos para descobrir que essa atmosfera não era natural do ambiente, mas vinha de alguém. Esse alguém era o Absol.

— Como vai, meu rapaz? — disse em tom calmo.

— Não se passou um dia sequer desde que você me viu da última vez — respondi prontamente. — O que você está fazendo aqui?

— Oras, eu não podia perder isso. Sempre acontece alguma coisa interessante quando duas pessoas com o "dom" se encontram.

— Pelo visto você ainda não parou com esse cinismo irritante, não é, pai? — falou uma voz na escuridão.

Antes que eu pudesse perguntar, o dono da voz que falou se mostrou diante de mim; era o selvagem de antes.

— Tentando escapar pelo subsolo? Muito bom, mas previsível — disse após tomar a mesma posição de luta que antes.

Se Luna, uma ladra provavelmente experiente em brigas, não conseguiu derrotá-lo, sabia que não tinha muita chance de vitória. Mesmo assim, vi-me dominado por um ímpeto desconhecido; sentia algum tipo de força controlando meus movimentos.

— Muito bem, Robin — elogiou Absol. — Já consegue usar a energia negativa desse modo? Parece que você tem um rival e tanto, Train.

— Cale-se, pai — disse o garoto.

O Absol desapareceu, deixando nós dois sozinhos naquele lugar. Meu corpo inteiro suava, eu sentia um sentimento diabólico, não conseguia me concentrar em nada fora o meu oponente. Com medo daquele poder, tentei tomar controle da situação e voltei a mim. No entanto, Train já estava a um passo de distância de mim. Desviei do ataque e desferi um soco direto, facilmente bloqueado e contra-atacado. Sem hesitação, Train aplicou fortes chutes enquanto eu estava no chão, mas seja por habilidade ou sorte, eu consegui desviar e levantar-me, tentando imitar um chute que já vi alguém usando. Não lembrava do rosto ou do nome dessa pessoa, mas agradeço à ela, uma vez que o ataque foi bem-sucedido.

Aproveitando o estado atordoado de Train, investi furiosamente com uma cabeçada na altura do peito dele e o nocauteei, ou, pelo menos, foi o que imaginei. Pensando ter exagerado, fui verificar seu estado. Um erro fatal. Levantou em uma velocidade absurda, desferindo um ataque direto bem no complexo solar, um dos pontos vitais do ser humano. Não pude evitar ou reagir, fiquei congelado pela visão amedontradora; seus olhos estavam arregalados e vermelhos, como se estivessem prontos para pular de seu rosto, sua expressão era ameaçadora e eu tenho bastante certeza que ele estava babando também. Não dei muita atenção a esse detalhe; melhor dizendo, não tive tempo.

O ataque me mandou para alguns passos de distância, mas me mantive de pé, tentando suportar a dor causada por ele. Foi aí que aquele sentimento veio denovo. Comecei a suar, minha mente se encheu de pensamentos violentos, mas dessa vez não consegui me controlar. Não lembro do que aconteceu exatamente; a luta foi bem rápida, eu levei vantagem por um tempo, mas Train saiu vencedor. Antes do golpe final ser realizado, um pequeno Minun apareceu na cena, apenas para ser mandado para longe com um chute. Train se aproximou da criatura com intenções violentas e eu fiquei deitado no chão sem forças para levantar. No entanto, não pretendendo desistir, ordenei:

— Minun, choque do trovão!

O ataque pareceu surtir efeito, mas Train soltou um rugido forte e golpeou Minum com força pra longe. Ele correu em direção ao Pokémon e se preparou para finalizá-lo, quando eu encontrei forças para levantar e ir em direção a ele. Suportei seus golpes, que já não pareciam tão fortes. Tomados pela fadiga, nós dois paramos de nos atacar, mas Train não parecia querer desistir tão cedo, desferindo um ataque lento. Segurei seu soco e disse:

— Selvagem hipócrita — disse com a voz falha e cansada. — Bancou uma de herói lá em cima, e ataca um Pokémon sem hesitar agora, não é?

— O que é você? — perguntou, retomando a consciência.

— Essa é exatamente minha pergunta.

— Por que esse Minun te obedeceu? Como você consegue ver meu pai? — levantou-se lentamente e me ofereceu ajuda para levantar.

— Honestamente, eu não faço a mínima ideia.

— Interessante... você é como eu, então devemos nos encontrar em breve. Até lá, não se entregue para as trevas — preparou-se para ir embora, mesmo ferido.

— Não, espere! O que você sabe sobre essa maldição? Por que não unimos forças?

— Eu não poderia nem se quisesse — deu um riso forçado. — Além do mais, você já tem companhia, não é? Mesmo ela sendo um lixo da sociedade.

— Luna?

— Sim, ela deve estar perto. Cuide bem desse Minun, sim?

Olhei para o Pokémon ao meu lado; ele parecia assustado e nervoso com a situação, mas não pude fazer nada. Antes que pudesse mover um músculo sequer, desmaiei.
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