A JORNADA DE ROBIN:

Bloco 10 - "Energia negativa"

Capítulo 28 - O segundo teste

Sim, era aquele... como era o nome? Train, isso mesmo. Ele surgiu do nada, como se tivesse pulado de um avião. Tentei me esconder na floresta, mas não tive a chance para isso.

— Ah, demorou menos do que eu esperava pra ver vocês denovo — disse Train, olhando para o grupo escondido na moita. — E você também, Robin.

Estranhei o repentino bom-humor dele; podia jurar que ele odiava ladrões.

— Eu ainda odeio lixos como vocês, obviamente.

— Acho justo — decidi iniciar um diálogo, — mas por que você está criando Tauros?

— Eu os achei perdidos por aí, então decidi ajudá-los a ficarem mais fortes.

— Por que não simplesmente os capturou?

— Capturar? Que idiotisse.

Não entendi o que ele queria dizer com isso; definitivamente era uma pessoa estranha. De qualquer forma, achei que seria uma boa chance de me livrar daquele bando de ladrões e me juntar a alguém mais apropriado para ser meu companheiro e me ajudar a recuperar minhas memórias. Desconsiderando o fato de ele ser um selvagem perigoso, até porque eu poderia saber mais sobre a maldição, decidi fazer um convite:

— Diga, você por um acaso estaria interessado em me acompanhar na minha jornada?

— Claro.

— Mas por que não... o quê? Você aceita? — perguntei, desacretidando na facilidade com que havia conseguido convencê-lo.

— Eu te achei bem interessante, e não é sempre que se vê alguém como nós dois — começou a caminhar em direção aos Tauros. — Mas primeiro, vamos nos livrar da escória, sim?

Train levantou seu braço direito para cima, chamando a atenção dos Pokémons.

— Ataquem — ordenou, apontando para o grupo, que estava tentando fugir.

Nesse momento, fui tomado por um clássico dilema moral: assistir Luna e os outros serem pisoteados por Tauros ou tentar salvá-los, possivelmente dando um fim à minha própria vida? Para complicar mais a situação, lembrei que o Minun também estava em perigo. O que fazer? Era a pergunta que ecoava em minha mente, enquanto meu corpo suava e minhas mãos tremiam. Minha testa ardia em chamas e minha visão estava cada vez mais desfocada. Com certeza não eram sintomas de indecisão, mas sim de que "aquilo" estava prestes a acontecer denovo.

Sentia-me poderoso e cheio de energia, capaz de derrotar todos aqueles Tauros com os braços amarrados e uma perna amarrada no meu pescoço; e mesmo assim achava uma partida injusta. Animado, corri para a manada e fui facilmente derrubando os Pokémons, um por um, até que fui atingido por um deles. Ele tinha algumas cicatrizes no rosto e movia-se de forma diferente dos demais, o que me fez pensar que era o líder, o mais forte. Logo me levantei e voltei a perseguir os Tauros, que voltaram sua atenção a mim e pararam de perseguir Luna e o bando.

O líder avançou em minha direção em uma velocidade considerável e, pensando rápido — ainda mais do que o normal —, o atrai para a floresta, fazendo-o cair em uma das armadilhas plantadas anteriormente e tropeçar. Aproveitei a corda usada em uma armadilha e agilmente amarrei o Tauros em duas das maiores e mais resistentes árvores do local, formando uma espécie de estilingue. Tomando cuidado para não danificar as árvores, puxei-o para trás, enquanto o resto da manada se aproximava. Ao soltá-lo, todos os outros Tauros foram nocauteados ou ficaram com medo e fugiram, desorientados.

Voltei a mim, sem lembrar de muita coisa, e vi Train, que me parabenizou:

— É, isso foi bem interessante. Parabéns, passou do meu teste.

Demorou um tempo para eu conseguir me recordar do que fiz, mas foi possível concluir uma coisa: essa maldição com certeza pode vir à calhar.

Capítulo 29 - Reflexões sobre a maldição

"Energia negativa", "Absol"... são todos elementos integrantes dessa maldição, constantemente trazidos à tona por algum acontecimento bizarro. Depois dos eventos do capítulo anterior, o chefe me guiou de volta para o acampamento, onde eu fui aceito oficialmente como membro do grupo. Train disse que estaria me esperando enquanto cuidava dos ferimentos dos Tauros — embora, surpreendentemente, terem sido bem leves — e houve uma comemoração pela recente aquisição dos Pokémons. No entanto, a animação durou pouco, uma vez que perceberam que eu havia completado o teste sem capturar nenhum Pokémon.

Mesmo assim, o chefe me deu uma missão aparentemente simples (ou talvez não, estava ocupado demais pensando em coisas mais importantes para prestar atenção) para ser realizada com o auxílio de Luna. Fora isso, nada de muito importante aconteceu no resto do dia; Train decidiu que os Tauros já eram fortes o suficiente para se virarem sozinhos, além de ter demonstrado ter uma personalidade altamente incompatível com a da Luna, o que causou várias paradas e longos minutos de discussões. Pelo caminho, fui treinando meu Mudkip para prepará-lo para uma futura batalha e capturei um Zigzagoon.

Relatados os acontecimentos, devo contar-lhe sobre os pensamentos que tive. Notei que, sob certas circunstâncias, partes de minha memória ficavam acessíveis. Mesmo assim, eu não conseguia lembrar dos detalhes, só lembrava dos acontecimentos. Por exemplo, eu lembrei de uma ocasião onde eu tive que me adaptar à vida selvagem, vivendo junto dos Pokémons, mas eu não lembrava como fui parar naquela floresta em primeiro lugar. Se fosse pra adivinhar, no entanto, eu diria que foi por causa da maldição.

Falando nisso, vi que não podia permanecer indiferente, portanto tinha que tomar alguma decisão: usar a energia negativa sem me importar com as possíveis consequências? Ou simplesmente não usá-la? Talvez houvesse uma outra alternativa? É verdade que não sabia que tipo de poder era aquele, mas, verdade seja dita, era certamente útil; meus sentidos ficavam mais aguçados, minha mente raciocinava mais rápido e minha auto-confiança aumentava, assim como a minha força.

Por outro lado, considerei também minha falta de controle sobre e durante esse estado, dependendo totalmente da minha força de vontade para voltar ao normal. Considerei também a forma com que havia saído de duas situações diferentes; quando eu fiquei perdido naquela floresta e o incidente com os Tauros. Na primeira ocasião, não tinha nenhum conhecimento sobre a energia negativa, tive que depender do meu intelecto para voltar à civilização de forma satisfatória. Na segunda, obedeci exclusivamente aos meus instintos, me sujeitando a agir de forma tão selvagem quanto os Tauros.

Parei para pensar no porquê de eu começar essa jornada em primeiro lugar, mas não conseguia lembrar. Sei que com certeza não foi para me rebaixar ao nível de Pokémons selvagens ou para passar os dias pensando em como viver com essa maldição. Logo, no fim do dia, decidi que aquele poder era inútil para alguém como eu.

Capítulo 30 - Notas adicionais

Foi também no fim do dia que parei para pensar no novo membro do grupo de jornada, Train. A forma como ele aceitou entrar facilmente faria até o mais puro dos homens duvidar, principalmente por ele não ter mostrado tanta simpatia comigo e com Luna no outro dia. Enquanto nos preparávamos para dormir, vi que ele ainda estava sentado perto da fogueira.

— Não desejo tomar muito tempo, então vou pular logo para a questão: quem é você? — perguntei.

— Train, prazer em conhecê-lo — respondeu, tentando dar um sorriso.

Como foi possível notar, eu precisava de uma aproximação diferente.

— Certo, pulemos essa parte; você é você e ponto final — sentei perto dele —. Mas, como você lida com essa energia negativa? O que você sabe sobre isso?

— Bem, todos os seres vivos emanam algum energia; quando estão felizes, transmitem a felicidade, quando estão tristes, transmitem a infelicidade. Assim como isso é transmitido de volta.

— Suponho que sei onde você quer chegar. Está sugerindo que transmitimos energia negativa, e, em retorno, o universo reage com ataques de má sorte?

— No seu caso sim — fez uma expressão mais pensativa, mostrando estar interessado —, mas ao que parece, ele reage de forma diferente para cada um de nós.

— Me pergunto como você sabe tanto....

— Metade do que eu digo é baseado em teorias, mas eu já conheci outros além de nós.

Olhei para o céu, buscando encontrar algo, mas tudo o que vi foi um belo azul, com brilhantes e luminosas estrelas. Mesmo assim, ainda havia espaço para estrelas menores, sem tanto brilho ou destaque. Por que, dentre tantas, aquela foi a escolhida para ser a mais desprezível?

— Recebemos um dom, Robin, um ótimo dom; a empatia que temos com Pokémons. Seria injusto se não tivéssemos um preço a pagar, certo?

— E o que vai fazer quanto a isso?

— Nada. Eu passei a viver com Pokémons porque a maldição me impede de ficar com outras pessoas — olhou para a cabana de Luna —. Acho que deu para perceber isso.

— Ah, não havia notado, pensei que fosse algum distúrbio psicológico. Sem ofensas.

— Não ofendeu, já me acostumei com isso — riu por alguns instantes e se levantou —. Foi bom conversar com você, mas vai ter que arranjar um jeito de se livrar da maldição sozinho. O máximo que posso fazer é levantar teorias.

Essa conversa me fez perceber que, embora a estrela de antes tivesse pouco brilho, ela tinha companheiras para iluminarem a noite. Não, não foi uma metáfora, foi só algo que eu pensei em escrever. Parecia mais bonito na minha mente. De qualquer forma, sabia que tinha pelo menos um amigo confiável nessa jornada, mesmo não tendo muita certeza de suas intenções.