A JORNADA DE ROBIN:

Bloco 11 - "Luna"

Capítulo 31 - Dia comum

Chegando nesse ponto, o leitor pode se perguntar sobre a estabilidade do meu grupo de jornada. Aviso que tal preocupação é desnecessária, pois por mais instável que pareça, nós ficamos juntos por um bom tempo. Claro, aconteceram algumas coisas... mas não é hora de falar sobre elas. De qualquer modo, alguns dias haviam se passado desde a entrada de Train; adquiri mais duas insígneas e capturei um Nincada, um Abra e uma Skitty. Por insistência de Train, que disse que não valia a pena treinar aquela Skitty, a soltei e prosseguimos com a viagem, até chegarmos em um deserto.

— Luna, vamos parar um pouco — disse com a voz desgastada —, tem um oásis naquela direção

Luna respondeu com um embaralhado de palavras, impossíveis de entender. Aparentemente, ela estava sem forças para controlar a velocidade de sua fala. Train, igualmente cansasdo, mas tentando disfarçar, deu uma olhada nos olhos dela e dirigiu-se a mim:

— Tenho a breve impressão de que ela não vai responder; ela está desmaiada.

— Por céus, que pessoa normal é capaz de perder a consciência e continuar andando e falando?

— Bem, eu... — interrompi Train no meio da frase. Obviamente, ele não era a pessoa mais adequada para responder ou se considerar normal.

Fomos para uma caverna próxima e esperamos a garota se recuperar. Não era a primeira vez que isso acontecia, ela vem ultrapassando seus limites desde o dia em que foi dada aquela missão pelo Chefe.

— Essa tal missão — disse Train, após ter pêgo um pouco de água do óasis —, por que Luna está tão anciosa por ela? Ou o motivo é idiotisse mesmo?

— Não colocaria nesses termos, mas não duvidaria disso. Também não faço a mínima ideia de como é essa missão.

— Mas a missão não foi pra você também? — Train enchou um balde com água.

— Por favor, se não fosse pela minha amnésia eu não teria nem me envolvido com essa aí — vi Train se aproximando de Luna —. Por que não simplesmente esperamos? Temos bastante tempo.

Sem escutar meu conselho, ele jogou o conteúdo do balde na garota inconsciente, imediatamente a fazendo despertar.

— Mas que diabos!? Train, seu idiota!

Eu não pretendo escrever toda a discussão que houve a seguir, então vamos pular para o final dela:

— Se acha tão melhor que eu? Então não vai se importar em batalhar, não é?

— Por mim não há problema, um lixo nunca ia me vencer em uma batalha Pokémon.

E foi nessas circustâncias que aconteceu a primeira batalha entre Luna e Train. Não é uma história particularmente complexa ou interessante, mas decidi relatá-la mesmo assim. Por sorte, ou não, a caverna era grande o suficiente para se batalhar.

— Vai Combusken! — exclamou Luna.

Train jogou sua pokébola logo a seguir e liberou um Electivire. Luna pareceu bem impressionada com isso:

— Uau, um Electivire.

Train esperou de braços cruzados o primeiro movimento de sua oponente, parecendo estar um tanto aborrecido com a longa admiração de Luna pelo seu Pokémon. Ela logo percebeu e voltou a se concentrar na batalha:

— Combusken, use brasa! — o golpe atingiu o outro Pokémon em cheio, então Luna continuou. — Agora use Chute Duplo!

Combusken completou o combo com um salto mortal, fazendo o Electivire ir um pouco para trás. À essa altura, qualquer treinador já teria percebido a futilidade de tentar continuar, mas Luna não é qualquer treinador. Tentando intimidar o oponente, perguntou em tom irônico:

— O quê? Percebeu que vai perder e não vai sequer dar um comando ao seu Pokémon?

— Não devo explicação a você — respondeu secamente, irritando Luna.

— Oras, seu arrogante, tudo acaba agora!

Tendo sua "estratégia" frustrada, ela tentou finalizar com um combo de picada, chute duplo, e brasa. Seguindo as ordems, Combusken gira e voa em direção do Electivire, em seguida usando o chute duplo e, aproveitado que estava no ar, pegou o impulso do chute duplo para ir mais alto e utilizar brasa, terminando a sucessão de golpes. Admito ter ficado um tanto impressionado com essa sequência, mas a luta já havia terminado; o vencedor estava decidido.

— C-co-co-como? — gaguejou Luna ao ver o Pokémon adversário se levantando. — Ainda de pé depois de tudo? Agora com certeza é o seu fim, use agora energia focalizada e depois Chute duplo!

Uma aura apareceu ao redor do Combusken e ele correu em direção do outro Pokémon. Antes do ataque atingi-lo, no entanto, Train finalmente mandou um comando:

— Volt, use o soco trovão.

Volt, o Electivire, carregou o ataque e desapareceu em questão de alguns décimos de segundos depois da ordem.

— O quê? Ele sumiu? — Luna mal conseguia respirar direito, suas mãos tremiam e uma veia em sua testa estava prestes a estourar. Ela definitivamente não sabe como agir sob pressão. — Não, Combusken, atrás de você!

Claro, era tarde: Volt usou seu soco trovão e atingiu em cheio em Combusken, fazendo com que ele voasse por vários metros, atigindo uma pedra e reduzindo-a a pedacinhos. Como disse, o vencedor já estava decidido.

Capítulo 32 - Separação

É impressionante o estrago que mal-entendidos podem fazer. Não me refiro à desentendimentos simples, como ligar para uma loja de roupas para encomendar mangas e discutir por horas com um funcionário que não entende que você não quer mangas de roupa, e sim mangas. Estou falando sobre desentendimentos capazes de causar crises internacionais e separar países. Mas não vamos tão longe, irei falar sobre um simples equívoco que foi a fonte de vários problemas e dores de cabeça.

Depois da batalha entre Luna e Train, os dois se acalmaram e nos preparamos para continuar nossa jornada, para a cidade de Slateport. Visando a paz, não comentei nada sobre a missão com Luna nem fiz algumas perguntas que estavam na minha mente à Train. Por exemplo, recordava-me de ter ouvido Train dizer que capturar Pokémons era idiotisse, mas por que então ele tinha um Electivire? Por que ele não tenta ser um mestre Pokémon com suas habilidades acima da média? E a mais importante: por que só eu tenho que enfrentar os treinadores que aparecem no caminho?

Luna foi se trocar em outra parte da caverna, deixando eu, Train e o Minun sozinhos. Espera, Minun?

— Quando foi que esse Pokémon saiu da pokébola? — perguntei.

— Não sei, ele é seu, não é?

— Ultimamente venho me perguntando exatamente isso...

— Quer dizer que você ainda não percebeu?

— Não percebi?

Fiquei interessado no que Train estava dizendo, talvez ele pudesse saber mais sobre o comportamento do meu Pokémon. No entanto, ele pareceu distraído com alguma coisa e apontou para trás de mim. Ao me virar, vi o Minun vestindo as roupas de Luna — aparentemente as pegou nos poucos segundos que a conversa com Train durou —. Mal era possível ver o Pokémon, que estava praticamente se afogando nas roupas extremamente grandes para seu tamanho. Mesmo assim, ele começou a falar extremamente rápido, tentando imitar Luna. Era quase impossível conter a risada nesse momento.

— Caramba, que Luna idiota — observou Train.

— É, certamente uma espécie rara — concordei —. As habilidades de batalha são tenebrosas, mas não é totalmente inútil, pelo menos consegue render algumas risadas.

O Minun pareceu irritado com meu comentário e imediatamente retornou à pokébola, deixando as roupas para trás. Enquanto isso, Luna estava ouvindo nossos comentários, sem saber do contexto, e retornou de olhar baixo, recolhendo sua vestimenta e sua mochila e retirando-se do local, sem dizer uma palavra. Estranhando seu comportamento, perguntei:

— Então, suponho que está pronta para ir?

Mas não houve resposta, ela não já estava mais ali. Olhei para Train, que retornou com um sinal indicando que também não sabia do que se tratava, e tentei perseguir Luna, mas a mesma montava no seu Luxray e se dirigia a Slateport em uma velocidade frenética.

— Me pergunto o que aconteceu...

— Não precisa — Train se preparava para sair da caverna —, com sorte a gente não se encontra de novo. Você mesmo disse que não teria se envolvido com ela se não fosse pela sua amnésia.

— Talvez, mas não deixa de ser verdade o fato de ser imprescindível deixar Luna por aí sozinha.

— E por quê?

Tentei elaborar uma resposta, mas não consegui; Luna é mais experiente do que eu e certamente consegue lidar com qualquer situação por conta própria. Além do mais, eu realmente havia dito que não queria me envolver com ela se tivesse opção. Mesmo assim, insisti em responder:

— Bem, obviamente, por nenhum outro motivo senão a promessa que ela me fez; a de me ajudar a recuperar a memória.

— Sim, sei... — Train virou-se de costas para mim.

— Talvez seu auxílio venha a ser útil.

— Talvez, quem sabe? Até mais, te vejo na cidade — despediu-se e desapareceu no deserto.

Graças à extraordinária vontade de ajudar de Train, vi-me forçado a procurar por Luna sozinho. Nessa hora passei a invejar as desventuras de Cândido, que ao menos tinha bons companheiros de jornada. Melhores que os meus, pelo menos.

Capítulo 33 - Flashbacks

O veloz Luxray corria sobre as escaldantes areias do deserto de Slateport, que antes compunham uma bela praia, enquanto sua treinadora estava pensativa; meditando e refletindo, refletindo e meditando. Não demorou muito para a fadiga atingi-lo, então Luna o chamou de volta à pokébola e andou até chegar em um pequeno vilarejo solitário, isolado de todo o resto da região. Ela soltou um pequeno sorriso ao vê-lo, mostrando excitamento e ansiedade.

Ao entrar, a garota se deparou com uma velha senhora carregando sacolas que eram obviamente pesadas demais.

— Precisa de ajuda, senhora Dorothy? — perguntou gentilmente Luna.

— Ah, muito obrigada — a senhora ficou encarando Luna por um tempo —. Espera, você é...

— Lembra de mim?

— Sim! Joaquim, não é?

— Que Joaquim o quê!

— Calma, calma, não precisa falar tão depressa, Luna. Já te disse que não vai conseguir um namoradinho assim.

Luna deu um suspiro, imaginando que o lugar não tinha mudado nem um pouco desde que o visitara da última vez, quando era apenas uma garota. Ela carregou as sacolas para a senhora Dorothy e perguntou se seu pai ainda se encontrava por ali.

— Sim, decidiu voltar pra cá? Ele vai ficar bem fe...

— Desculpe, tenho pressa.

Despediu-se e andou rumo à uma pequena casa localizada no extremo norte do vilarejo. No caminho, parou um pouco para uma observar uma cena bem incomum: as autoridades locais pareciam estar tendo problemas para controlar algum jovem que estava causando problemas. Não pôde ver quem era, mas decidiu não se importar; ela tinha um motivo para vir até ali, e nada podia pará-la. Bateu na porta da pequena residência e foi atendida por um homem de aparência severa, com um cabelo afro e um cachimbo na boca.

— Pois não? — disse em tom firme e autoritário —. Espera... Luna?

Sem conseguir escolher as palavras adequadas, o homem a convidou para dentro e pegou um copo d'água. Luna dirigia-se para a sala principal, repleta de recordações do passado; fotos, brinquedos antigos, etc. Quando o homem retornou, instintivamente começou um questionário. Os dois sentaram-se e Luna conseguiu acalmá-lo, decidindo falar:

— Já aviso que não vou voltar pra cá.

— Ah — o homem já estava mais calmo e retornou ao tom firme —. Bem, a escolha é sua. Já se passaram quatro anos, não é?

— É.

Embora tenham tentado evitar ao máximo, os dois ainda tinham recordações daquele ano, quando Luna decidiu entrar no bando. Há seis anos seus pais saíram de sua terra natal, Sinnoh, para procurarem por uma planta extremamente rara que, de acordo com os boatos, era capaz de curar a doença igualmente rara da mãe de Luna. A treinadora inexperiente, ao saber dessa viagem, decidiu interromper sua jornada e segui-los, mas demorou cerca de um ano para encontrá-los. Ainda em Sinnoh, ouviu rumores de um vilarejo em construção no meio da praia de Slateport, que já estava em processo de desertificação. Lembrou-se de ter ouvido falar que a planta crescia em áreas recentemente transformadas em deserto, e morria poucas semanas depois.

Com isso, a jovem treinadora comprou um mapa, de horrível qualidade, e seguiu viagem, apenas para perder-se pouco tempo depois de chegar em Hoenn. Foi aí que conheceu o Chefe e fez amizade com o resto do grupo. Eles a ajudaram a chegar no seu local e despediram-se com a promessa de que se encontrariam de novo.

— Como vai sua jornada? — perguntou o pai, tentando quebrar o gelo.

— Eu desisti de ser uma treinadora.

— Não me diga que você realmente virou uma... ladra?

— É, algo do tipo.

— Já parou para pensar no que sua mãe diria se estivesse viva?

— Sim, ela se arrependeria de ter dito pra você colocar uma peruca — riu Luna.

Quando Luna chegou no vilarejo, a doença já estava em uma fase mais avançada; sua mãe mal conseguia movimentar-se sem ajuda. Por mais um ano, ela ficou por lá, periodicamente checando a área em busca da planta. Até que um dia o Chefe fez uma visita ao vilarejo e se propôs a ajudar, dizendo saber como curar a doença. Como esperado, o pai de Luna imediatamente recusou e proibiu a garota de se envolver com aquele tipo de gente, o que causou diversas brigas entre os dois. Dias depois, Luna fugiu e a doença levou a mãe embora.

— Se você tivesse aceito, ela ainda estaria bem — murmurou a garota.

— Nenhuma pessoa de bem iria aceitar ajuda de lixos como aquele cara.

— Lixo? Ele sempre me apoiou e me tratou como sua filha, ao contrário de você.

— Eu iria te apoiar se você fosse boa em alguma coisa.

— Já chega — Luna levantou-se —, eu contar logo o que queria dizer desde o início. Naquela vez eu fugi, mas não tenho mais medo de você e nem me importo com o que você acha de mim. Adeus.

Luna saiu de cabeça pra cima, com ar de missão cumprida, e dirigiu-se para a cidade de Slateport, disposta a se reunir comigo e até mesmo com Train. Infelizmente, isso iria levar um tempo porque... bem, digamos que eu estava envolvido em um pequeno problema nesse exato momento. Deixemos isso para o próximo capítulo.