A JORNADA DE ROBIN:

Bloco 13 - "Terry"

Capítulo 37 - Dia do desastre, o fim

Nesse momento, ouvimos as vozes dos habitantes do vilarejo. Eles estavam armados com tochas, pedras, pedaços do pau e coisas do gênero; você já deve ter visto uma cena dessas ao menos uma vez na vida. Para completar, Luna estava com eles.

— Causando problemas de novo, Terry? — perguntou.

Sem me dar chances para uma defesa, os habitantes iniciaram uma implacável perseguição contra mim e Train, que eles parecem ter julgado como sendo meu cúmplice. Ou talvez ele tenha irritado o vilarejo inteiro por conta própria. Uma possibilidade plausível.

— Por que não disse desde o início que era você, Robin?

— Eu passei a batalha inteira tentando dizer isso.

— Ah, tanto faz.

Tanto eu como ele estávamos cansados, então fomos pêgos rapidamente. Nos guiaram amigavelmente, após terem amarrado nossas mãos com cordas extremamente resistentes, até a casa daquele que parecia ser o chefe. Nos colocaram na sala principal, em duas cadeiras que estavem em frente de uma mesa. A sala era pequena, mas confortável; havia várias decorações de Pokémons, uma estante com troféus e retratos pendurados nas paredes, alguns deles pareciam ser de Luna. Ele tirou o charuto da boca, sentou-se na cadeira de frente para nós, nos comprimentou calorosamente e iniciou uma conversa amistosa:

— Viram o que fizeram com nosso vilarejo, seus arruaceiros imprestáveis? — pegou um copo d'água e começou a beber na nossa frente, deliciando-se.

— Com todo o respeito, senhor...

— Suas mães deviam se arrepender de ter parido vocês, suas abominações horrorosas.

— Direi isso à ela, mas primeiro, por que não nos traz um copo de...

— Cala a boca, inútil.

Vi que tentar formar um diálogo não ia resolver muita coisa, então Train tentou falar no meu lugar:

— Veja — se desamarrou com facilidade e pegou o copo d'água que o homem estava segurando —, eu não quero fazer mal. Mas não garanto nada sobre esse cara aí do lado, ele é Terry, o mais sanguinário dos ladrões.

— Sim, já ouvi falar. Então quer dizer que você estava tentando pará-lo? Muito obrigado, você tem minhas sinceras desculpas

Train deixou o copo em cima da mesa e deixou a residência, com a consciência limpa. Vários minutos se seguiram e o homem não parava de me fazer perguntas, nunca permitindo tempo para respondê-las. Por fim, apareceu minha salvadora, Luna:

— Pai, deixe-me falar com ele.

Obedecendo, o senhor retirou-se para outra sala e Luna sentou-se em seu lugar.

— Devo dizer que não pensei nem por um segundo que você me deixaria aqui.

— Não banque o idiota, Terry. O que você fez com o Robin?

— Robin? Ele está bem na sua frente, se quer saber.

A garota, aborrecida, levantou-se, deu uma volta pela sala e reformulou a pergunta:

— Eu sei que você sabe do Robin. O que quer com ele? Por que está fingindo ser ele?

— Eu realmente não sei nada disso.

— Mentira! — socou a parede atrás de mim, revelando uma expressão melancólica. — Idiota, ele não devia ter vindo aqui.

— Talvez deva considerar a possibilidade de ele se preocupar com você. Ou melhor, com a estabilidade do grupo.

— Não — acalmou-se e voltou a sentar —, ele só teve azar de ter me conhecido. Minhas habilidades como treinadora não chegam nem aos pés das do Train; minha inteligência é limitada; eu sou...

— Hmph, por favor — interrompi —. Não vou dizer o contrário, mas por que você se importa? Ele depende de você e tem consciência disso; o fato de você ser impulsiva, inculta e irritante é irrevelante. Chorar com certeza não vai trazê-lo de volta.

O brilho reapareceu nos olhos de Luna e um leve sorriso surgiu em sua face.

— Obrigado Robin, vindo de você deve significar bastante.

— Bem... espera. Você sabe que sou eu?

— É claro, eu falei com o Train lá fora. Mas o que exatamente você quis dizer com "o fato de você ser impulsiva, inculta e irritante é irrevelante"?

— Ah, deixemos isso de lado, eu vou esclarecer tudo depois. Mas primeiro, por que você não me solta?

— Eu faria isso, mas seria muito impulsivo. Fica aí conversando com meu pai por um tempo.

No fim, tudo ficou bem; Train e Luna parecem ter se entendido, os bandidos foram capturados pela força policial da cidade de Slateport, Luna reconciliou-se com o pai e Train ficou bem popular entre as crianças no vilarejo, que ficaram admiradas por Blaze. Passamos a noite ali mesmo e fomos rumo ao próximo ginásio de manhã. Apenas mais um dia desastroso comum passou-se, mas uma dúvida ficou: quem é Terry?

Capítulo 38 - Popularidade

Se me perguntar como aconteceu, não encontrará resposta alguma, só possibilidades: talvez foi culpa de Luna por ter quebrado meu Pokénav, talvez de Train por ter começado uma discussão com ela, talvez dos meus perseguidores, mas é provável que tudo isso tenha sido causado pelo Absol. Estava perdido no lugar mais perigoso de Slateport, com um lunático me perseguindo, e... Bem, desculpe, me precipitei. Obedeçamos a ordem cronológica dos fatos, por enquanto, e comecemos pelo início.

Depois do episódio do deserto, conseguimos chegar na cidade de Slateport.

— Ah, isso realmente traz de volta memórias antigas — anunciou entusiasticamente Luna, em voz alta —. Olha, naquela loja que eu conheci a Melissa, sujeitinha interessante, gostei da atitude. Veja! A loja de brinquedos está em promoção!

Não prestei muita atenção no que dizia, estava tentando decidir qual estratégia
usar para conseguir a insígnea. Devo admitir que até pouco tempo, não podia evitar
senão associar batalhas com problemas, mas fiquei bem entusiasmado com a ideia de
ser um Mestre Pokémon. De qualquer forma, nos dirigimos para o Centro Pokémon, e de lá fomos fazer um passeio pelo local. Como era seu costume, Train desapareceu em algum momento do caminho; isto é, antes de brigar com Luna a respeito do meu
Pokénav e quebrá-lo. Não me pergunte como isso começou. "Talvez tenha ido comprar um novo", pensei, mas logo desisti dessa esperança.

O céu estava no tom mais puro e suave de azul, sem uma única nuvem, o sol radiava
o suficiente para garantir uma temperatura agradável e os ventos traziam a doce
fragrância das flores do parque. Seria uma típica e clichê cena de primavera, se
não fosse verão. Inspirado, acabei contando meu desejo à Luna, o de futuramente
escrever um relato de minha jornada quando tiver me tornado um Mestre.

— Ah, que bom Robin. Olha, brinquedos!

Percebi que não era o único animado pelo clima. Luna pegou-me pelo braço e
arrastou-me para uma gangorra próxima. Não esperava que ela tivesse uma força
tão grande.

— Vou desconsiderar o fato de ter ignorado o que acabei de dizer, mas agradeço
se me soltar.

— Mas Robin, você ainda é um garoto, tem que aproveitar enquanto é tempo.

— Obrigado, porém...

— Ok, chega de falar, senta aí.

Embora me sentisse constrangido por estar brincando com algo tão infantil, imaginei
que seria natural para alguém da minha idade estar fazendo aquilo, até notar uma
multidão se formando ao redor. Luna? Não, os olhares definitivamente eram para mim,
olhares fixos e curiosos, além de cochichos irritantemente baixos. De vez em quando
era possível ouvir uma frase ou outra:

— Olhe lá, é ele.

— Será que é bom? Quero batalhar com ele.

— Até que é bonitinho, não me importaria se fosse meu filho.

Irritado com a indiscrição, desci da gangorra e me dirigi até a saída do parque, não percebendo que Luna havia ficado, deliciando-se na doce sensação da falsa primavera. Meu erro fatal naquele dia, no entanto, foi olhar para trás, apenas para perceber a mesma multidão. Surpresos, começaram a acelerar o passo, o que eu inconscientemente fiz também, dando início à uma nova perseguição. Decidi rever meus conceitos sobre a fama naquele momento.

Buscando dispersar os perseguidores, limitei minha rota de fuga aos caminhos mais estreitos e confusos. Meu segundo mais erro fatal. Logo vi-me na situação descrita anteriormente: estava perdido em um beco sujo e abandonado enquanto um dos meus "fãs" continuava a me observar, de longe. Sem me mover, procurei por ele nos lugares mais altos, andando cuidadosamente, mas não o suficiente, uma vez que minha perna se prendeu em um buraco. Foi quando uma rede voou em minha direção.

Esperneei e sacudi, lutei e resisti, cansei e refleti. Por que alguém iria andar por aí com uma rede profissional de captura, do mesmo tipo que tenho na minha mochila? Mal pensei nisso e ele se revelou; ou deveria dizer, eu me revelei? Uma figura idêntica a mim, um clone, uma cópia. Trajava um uniforme similar aos daqueles homens, Billy e Kid, uma camisa preta com um "N" nela, calças militares e botas, além de ter uma pequena cicatriz no rosto. Fora isso, era a imagem cuspida pelo espelho do meu reflexo.

— Robin, estou certo? — tirou uma faca do bolso de suas calças e dirigiu-se lentamente a mim.

Não respondi, estava espantado demais para dizer qualquer coisa. Poderia ele ser aquele que me causou tantos problemas no deserto?

— Algum problema? Admirado com a própria imagem?

— Poderia dizer o mesmo — fiz um esforço tentando me levantar, em vão —, mas não vou. Que culpa alguém como você tem de encontrar alguém como eu e animar-se com a ideia de sermos um pouco parecidos? Liberte-me e esse incidente jamais sairá de minha boca.

— Oh, que benevolência do grande Robin, estou prestes a cair em prantos — disse secamente enquanto se agaichava.

Com um movimento ágil e preciso, ele cortou a rede, de onde eu logo me levantei.

— Certo, não teria graça absorver alguém como você desse jeito — pegou sua pokébola e guardou a faca —. Vamos, escolha um Pokémon, quero ver o tamanho de sua habilidade.

Mal tinha terminado de dizer quando eu comecei a correr. Não fazia a mínima ideia do que ele quis dizer com absorver, mas também não estava muito interessado em descobrir.

Capítulo 39 - O fim de Narciso

Enquanto fugia de Terry pelos caminhos estreitos do local, eis que surge o Minun para agravar a situação. No entanto, parei um pouco para olhar ao meu redor; não havia ninguém por ali. Pensando estar livre, tentei buscar ajuda em uma das casas, mas faltou-me coragem para encarar qualquer criatura que morasse por ali. Então ouvi um som vindo de cima; o som de algum Pokémon. Pensei ser impossível, mas meus temores se confirmaram pela pokédex, era de fato um Latios.

Tentei me manter o mais longe possível do campo de visão dele, mas foi inútil, uma vez que o Minun já estava o mais perto possível, carregando um choque do trovão. Latios derrubou Minun sem pensar duas vezes antes que ele pudesse ter chance de soltar o ataque. Retornei-o à pokébola e virei-me para trás, apenas para encontrar Terry.

— O que achou da minha nova aquisição, Robin?

Sentia alguma sensação estranha, um misto de calafrio e medo, percorrendo meu corpo inteiro. Foi como naquela vez em que lutei contra o Train. Não havia dúvidas: aquele garoto era um amaldiçoado também. Se aproximou de mim em passos lentos, enquanto seu Latios bloqueava minha única saída, forçando-me a tomar alguma ação. Peguei uma pokébola e a lancei no ar, mas nada aconteceu. Peguei outra e fiz o mesmo processo, tendo o mesmo resultado.

— Desculpe Robin, mas já foi possível analisar seu nível, agora relaxe e diga seus pensamentos finais, se assim desejar.

Terry avançou rapidamente e apertou meu pescoço com uma de suas mãos, levantando-me alguns centímetros do chão e emitindo algum tipo de aura negra enquanto eu ficava mais e mais debilitado. Poderia ser verdade? O mito de Robin chegaria ao seu trágico fim? Serei lembrado em cantigas? Foram os meus pensamentos finais, mas não tinha nem forças restantes para dizê-los em voz alta.

Encontrei-me na ponta de uma ilha situada nas nuvens, quando um forte vento de coloração escura me afastou do resto da ilha e comecei a cair, e cair, e cair. Avistei terra firme e fechei meus olhos, temendo a colisão. Mas parei pouco antes da batida, impedido por um garoto com os braços extendidos e algum tipo de campo de força quase invisível ao seu redor. Ao olhar para os lados, percebi o mesmo campo de força me envolvendo, porém mais visível.

Inconscientemente, fui me aproximando em direção ao garoto, fascinado por suas características; queria ser como ele, desejava possuir seus traços. Em resposta, ele também se moveu, enquanto seu campo de força ficava cada vez mais visível. Extendi meus braços para alcançá-lo e nossos campos se fundiram, distorcendo todo o espaço. Quando dei por mim, estava tentando alcançar meu próprio reflexo no rio, sendo puxado lentamente por ele para o fundo.

Quanto mais me debatia, mais forte ele puxava, quanto mais gritava, mais intensas as ondas ficavam, quanto mais debatia, mais forte ele contra-argumentava; até eu finalmente ceder. Enquanto vagava pelo azul infinito, várias imagens apareceram, imagens do meu passado. Excelente, ao menos recupero minhas memórias antes de perecer. Uma delas se destacou entre as outras, era uma imagem de Train, tentando dizer alguma coisa.

— Robin, ei Robin.

Do outro lado, Train gritava intensa e insistentemente pelo meu nome e Luna aplicava manobras de primeiros-socorros. Quer dizer, na realidade ele estava jogando baldes d'água enquanto a garota me agitava e estapeava-me na face, mas creio que a intenção foi a mesma. Recobrei a consciência e agradeci os esforços, pedindo à Luna que parasse com os "primeiros-socorros", mas ela estava aparentemente empolgada demais e continuou a me esbofetar até eu desmaiar novamente.